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Eu vi no tempo que o homem não conta
Eu vi no tempo há muito tempo
Há tanto tempo que me perdi
Eu vi a terra engolir o rio
De águas escuras e já sem vida
Levá-lo a seu ventre
Purificá-lo e vomitá-lo por entre as rochas
Límpido, ligeiro, cheio de vida
Distribuindo a vida e saciando
A sede de quem o maculou
Eu vi a árvore decepada e dizimada
Quase arrancada pelas raízes
Brotar dentre as cinzas
A oferecer sombra e frutos
A quem a decepou
Eu vi o homem rasgar a terra
E de suas entranhas retirar jóias brilhantes
Que a terra enternecida oferecia graciosamente
A quem nela penetrasse... sem nenhum respeito
Eu vi o pássaro beijar a flor
E no seu bico perpetuar
Volitando alegremente
A vida e a espécie
Eu vi o homem se perder em perguntas
Tendo à sua frente... respostas
Eu vi o ser cheio de luz...cego
Eu vi a Terra...
Explodir em vida, perfeição e beleza
E o homem cego... se arrastar por ela
Eu vi...
E tanta coisa eu vi
Que desisti de enxergar
Pois perante a luz
Que brotava de dentro de mim
Me inebriei, e por medo de perdê-la
Fui capaz de beber da luz
De quem brilhava menos que eu
Cada ser tem dentro de si mesmo
A centelha divina de luz
E a partir do momento que ela se acende
Precisamos difundi-la e
Abraçar com ela toda a obscuridade
Antes que ela se apague... perdida
Entre os dedos gananciosos
Do homem, que destrói a terra
A árvore, o rio, o pássaro
E toda a vida que há em volta dele
Que cego, se atira em buscas
Ofuscado em sua ânsia de poder
Cego por sua pouca capacidade
De doar e agradecer
O que foi lhe oferecido gentilmente
E em abundância.
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