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ABERTURA
Bumba! Meu Boi, bumbá!
Cavalo marinho
Vem vem que vem dançando
Bem devagarinho
Cavalo marinho
De donde é que vem
Das praias de longe,
Das terras de além?
Bumba! meu boi, bumbá!
Que vem de chegar
Cavalo marinho
Das bandas do mar.
AEROMOÇA
Pastora sou de pastores
Baliza dos ventos frios
Pastora sou de aeronaves
Farol guiando os navios
Que , aos portos de Além do Além
Levam seus porões vazios
Pastora sou de aeronaves
Baliza dos ventos frios
JARDIM DO CÉU
Jardim do céu, do céu
Rosa branca, rosa breve
Jardim de plantas de nuvens
Jardim de nuvens de neve
Asas livres, asas leves
Voando no céu distante
Asas de um homem que aprende
Liberdade a cada instante
Jardim do céu, do céu
Jardim do céu
Jardim do céu, do céu
Jardim do céu
SOLDADO
Marchando vem pela estrada
Batendo as botas reiúnas
O soldado
O soldado
O soldado da coluna
Avançando pela estrada
Sob o sol e sob as chuvas
Marchou muitas, muitas léguas
E venceu em Catanduvas
Subindo serras, descendo
Abrindo largas estradas
Nem mesmo ser reunidos
Trabalhador e soldado.
BICHEIRO
Mas é seu Tenório
Bicheiro da vila
Com seu criatório
Esperto e finório,
Trazendo seus bichos
Aí está seu Tenório!
Agora o casório
Mateus-Catirinha
- Um par de simplórios!
Não é mais ilusórioÂ…
Esperto e finório,
Trazendo seus bichos
Aí está seu Tenório!
BICHOS DA NOITES
São muitas horas da noite
São horas do bacurau
Jaguara avança dançando
Dançam caipora e babau
Au, au, auÂ…au
Festa do medo, do espanto
De assambrações um sarau
Furando o tronco da noite
Um bico de pica-pau
Au, au, auÂ…au
Andam feitiços no ar
De um feiticeiro marau
Mandingas e coisas feitas
Do Xangô de Nicolau
Au, au, auÂ…au
Medo da noite escondido
Nos galhos de um pé de pau
A toda dança acompanha
Tocando o seu berimbau
Au, au, auÂ…au
Um caçador esquecido
Que espreita de alto girau
Não vê cotia nem paca
Só vê jaguara u babau
Au, au, au,Â…au
Medo da noite, caveira
Na ponta de um varapau
Há um pio longo, agourento
-É mãe da lua, urutau
Au, au, auÂ…au
junto da grande coité
onde prepara um mingau
mexe e remexe, mexendo
a sombra de galalau
Au, au, auÂ…au
E um braço morto, invisível
Atira nagua um calhau
E as águas giram seus discos
Até um funil de um perau
Au, au, auÂ…au
Finge que fuma e defuma
Fumando seu catimbau
Medo da noite com o rosto
Pintado de colorau
Au, au, auÂ…au
Numa cangalha navegam
Como se fosse uma nau
E içando as velas, mortalhas
Passam jaguara e babau
Au, au, auÂ…au
Montando um porco do mato
Como se fosse um quartau
Caipora vai perseguindo
O jacaré ururau
Au, au, auÂ…au
Alguém soluça e lamenta
Todo esse mundo tão mau
Bicando a sombra da noite
Pinica e pinica o pau
Au, au, auÂ…au
Alguém no rio agoniza
No rio que não dá vau
Alguém na sombra noturna
Morreu no fundo perau
Au, au, auÂ…au
CAIU CAIU
Caiu caiu
Em terra ausente
Dos seus mais justos senhores
Terra que fugiu das mãos
Dos mais simples lavradores
Caiu
Da flor a semente
Não do fruto em noite escura
Semente, verde semente
Que um dia será madura.
COBRA
Vem o sol nascendo
Quando a morte passa
Parece dormir
Num chão de palha
Cascavel terrivel
Cascavel chocalha
Cobra salamanta!
Cobra coral!
O gado mordido
Não volta ao curral
Vem o sol nascendo
Quando a morte passa
É surucucu
Pico-de-jaca
É cobra tapete
É a jararaca
Na manhã nascente
Passa na estrada
Jararacussu
Urutu dourada
Vem o sol nascendo
Quando a morte passa
EMA
Gavião quando peneira
Peneira como urupema
Os bichos que são velozes
Não correm mais do que a ema
Correndo campos, baixos
Com matagis de jurema
Correndo o curso dos rios
Não correm mais do que a ema
Foge medroso o covarde
Antes as armas de um curema
As nuvens da tempestade
Não correm mais do que a ema.
ENGENHEIRO
Cuidado com o engenheiro
Que vem as terras medir
Ele é mais que feiticeiro
Para encantar e iludir
Seu instrumento: uma aranha
Tecendo vai os seus fios
E sempre alguém se emaranha
Nos seus desenhos vazios
Seu instrumento é roleta
De muitos mede a má sorte
Com traços de linhas retas
Separa a vida da morte
RETIRANTE
Daquele lado o que vemos
É uma figura de sombra
De gestos, cinza e silêncio
Quem de longe a vê se assombra
Por terras secas, desertas
Parece que é um retirante
Sentimos sua tristeza
Tão sem tempo e tão distante
FUI, FUI, FUI
Fui, fui, fui
Em fuga fui, fugindo fui
Cocorobó
Patamoté
Massaracá
Geremoabo
Fui, fui, fui
Em fuga fui, fugindo fui
Vasabarris
Aracati
Tapicuru
Jacuruci
Fui, fui, fui
Em fuga fui, fugindo fui.
GURIATÃ, CURIÓ
Guriatã, curió
Oh! patativa golada
Oh! Meu galo de campina
Cantando desde a alvorada
Sabiá da mata, sabiá
Sabiá gongá
Papa-capim, pintassilgo
Oh! Meu bem-te-vi passarinho
Saudando quem vai passando
Ao longe pelo caminho
Sabiá da mata, sabiá
Sabiá gongá
Oh! Minha ave araponga
Ferreiro deste sertão
Teu canto bate na serra
Responde o meu coração
Sabiá da mata, sabiá
Sabiá gongá
Cantadores do Nordeste
Cantando ao som do baião
Galopes a beira-mar
E os oito pés do quadrão
Sabiá da mata, sabiá
Sabiá gongá
Cantando vamos ao longe
Pela estrada do sertão
Cantando, vamos cantando
Salvar o boi e a nação
Sabiá da mata, sabiá
Sabiá gongá
MINHA FLOR, MINHA TERNURA
Minha flor, minha ternura
Meu jardim de malmequeres
Meu jardim de paquiviras
Teu silêncio se estendeu
Nas folhas das macambiras
Canário, canário branco
Canário branco
Teu corpo ficou ferido
Teu coração ficou preso
Nos gravatás dos espinhos
Tua voz se ttransformou
No canto de um passarinho
Canário, canário branco
Canário branco
Teu corpo se converteu
Na sombra de um ramo seco
Ramo simples de favela
Aonde rompeu as asas
A canarinha amarela
Canário, canário branco
Caneario branco
Eis a sombra que restou
Da bela fronde primeira
Quando em sombras desfolhadas
Arrastada pelo vento
Se perdeu na ribanceira
Canário, canário branco
Canário branco.
MORTE DO BOI
O meu boi morreu
Meu boi surubim
Que comprei na feira
De Belo-Jardim
Agora na vida
Que será de mim
Sem meu boi ponteiro
Meu boi surubim
Morreu, meu boi, morreu
Meu boi surubim
Sou pobre de tudo
Sou pobre de mim.
O AVIÃO
O avião, o avião, a avião caiu
Um luz no céu passar eu ví
O avião, o avião, o avião caiu
Na serra de Comunati
Ouvi passar Rasga-Mortalha
Ouvi cantar Pitiguari
O avião, o avião, o avião caiu
Na serra de Comunati.
O DOUTOR
Vem o doutor, vem trazendo
Sua seringa na mão
E às vezes, mesmo, benzendo
Quando não há salvação
Ai doutor!
Ai doutor!
Pastilhas, pós e pomadas
Emplasto, unguento e xarope
Tantas meizinhas usadas
Que a morte foge a galope
Ai doutor!
Ai doutot!
Cura os que vão pela vida
Das tripas desarranjadas
Cura a espinhela caída
A califa e o mau olhado
Ai doutor!
Ai doutor!
O BOI MORREU / TARDE VIM
O boi morreu, tarde vim
Nem mesmo pude saber
A que verdade cedeuÂ…
-Este boi, de que capricho
de que inocência morreu?
Do sonho fiz um remédio
Que cura as dores mais fortes
Que dá consolo e esperança
Aos que adormecem na morte.
O boi morreu. Tarde vim
E não lhe pude aplicar
O meu mais certo saber:
Que é o de dar um sonho à morte
Que é o de ajudar a morrer.
PRODUTOR
Vem na frente o produtor
Logo após o economista
Mais atrás com seu tambor
O sagaz propagandista
Dizem que são justiceiros
Produtores de abundância
Na verdade são coveiros
No cemitério da infância
De tamanhos produtores
Bem se conhece o produto
Terras secas, gado morto
Gente faminta, de luto.
REVERENDO
Pelos caminhos chegando
É um padre que estou vendo
Daqui lhe faço a pergunta
A quem vem, seu reverendo?
Está de batina branca
Pois faz um calor
Tremendo
Assim repito a pergunta:
A que vem, seu reverendo?
SOU FILHO DE PERNAMBUCO
Sou filho de Pernambuco
Lá das bandas de Carpina
Da cana gosto do suco
Que tem nome Monjopira
Eduquei-me no trabuco
Matar gente é minha sina
Nasci também nesta terra
Que o sol castiga e descora
- terra de joaquim Nabuco -
Homem de bem, homem certo
Que era muito diferente
Desses "nabucos" de agora
Há muito que por aqui
Um sanguesinho não há
Mas pelo jeito parace
Que as coisas vão melhorar
Pois seu coronel Nonô
Acaba de me chamar
Há de ser briga valente
Com muito sangue de gente
Vai correr sangue de boi
E ninguém há de sobrar
Pra contar como é que foi.
TEMA DO CAPITÃO
Saibam todos os presentes
Que, para aqui enviado,
No meu cavalo marinho
Sou capitão bem montado
Sou conde condecorado
Com a cruz do tempo e do ar
Capitão de Altas Milícias
Cavaleiro de Além Mar
Venho aqui pela justiça
O justo direito de dar
Venho persequir os fortes
E os fracos desagravar
Sou conde condecorado
Senhor de grande solar
Comigo trago mandato
De tudo remediar
Sou conde condecorado
Com a cruz do Tempo e do Ar
Sou comandante das nuvens
Errante no pelejar.
TEMA DO VALENTÃO
Quem é este que vem aí
Mais forte que um arsenal?
Mais perverso que valente
Mais frio do que um punhal?
Vem pela sombra do mato
Tocaia encruzilhada:
E a morte ronda os caminhos
Até o raiar da madrugada
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